Joana não ia ao salão. Não fazia as unhas (mal conseguia fazer a si mesma, todos os dias). Olhava as pessoas enquanto atravessava a rua, no trabalho, no shopping. Estava sozinha a maior parte do tempo, e isso lhe trazia a peculiaridade de ser assim, observadora.
Joana gostava de filmes de chorar, embora não chorasse nunca. Nem na vida real. Nem de alegria, nem de tristeza. De dor, só lembrava ter chorado quando criança. Não mais.
Gostava de andar de bicicleta e tinha mania de colher flores pelo caminho. Murchavam todas até chegar em casa. Mas isso a fazia feliz, a companhia das flores enquanto pedalava.
Não se queixava. Se irritava às vezes, mas fingia que não. E assim fingia várias coisas: que gostava do vizinho, que o emprego era bom, que não ligava pra solidão. Fazia-lhe bem? Não sabia. Não sabia como era ser diferente. Sabia apenas que era confortável permanecer.
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